Como bactérias intestinais podem afetar a ansiedade
Moléculas minúsculas podem ser chave para um efeito a longa distância sobre cérebro
Conforme artigo de Maria Teming, publicado no site ScienceNews, cientistas podem ter identificado os agentes moleculares do cérebro que ajudam as bactérias intestinais a influenciar, à distância, os níveis de ansiedade.
Moléculas diminutas do cérebro podem ajudar bactérias intestinais a sequestrar as emoções das pessoas.
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As bactérias que vivem nos intestinos humanos têm estranha influência sobre o estado de espírito, depressão e muito mais, mas, não era claro como exatamente esses seres unicelulares exercem um controle remoto sobre o cérebro. Agora, pesquisas em roedores sugerem que estes micróbios intestinais podem alterar o estoque de microRNAs – que são moléculas que ajudam as células a trabalhar em ordem para gerenciar a produção de proteínas – em regiões do cérebro que envolvem o controle da ansiedade.
Estes achados, relatados online em 25 de agosto de 2017 em Microbiome podem ajudar cientistas a desenvolver tratamentos para alguns problemas mentais.
Crescente evidência indica “que a maneira como pensamos e sentimos pode ser capaz de ser controlada por micróbios intestinais”, disse Gerard Clarke, coautor deste estudo, um psiquiatra da University College Cork, na Irlanda. Por exemplo, a presença ou ausência de bactérias intestinais pode influenciar se um camundongo mostra comportamentos ansiosos, como evitar luz brilhante ou espaços abertos.
Clarke e col. compararam camundongos normais, cujos tratos gastrintestinais estavam repletos de bactérias, com camundongos criados em ambientes estéreis, cujo intestino não continham micróbios. Os pesquisadores descobriram que em regiões cerebrais envolvidas na regulação da ansiedade – a amigdala e o córtex pré-frontal – sem micróbios tinham abundância de alguns tipos de microRNA e falta de outros, em comparação com os camundongos normais. Após os cientistas terem exposto alguns camundongos esterilizados aos micróbios, os níveis de microRNA dos roedores se aproximavam mais os dos camundongos normais.
A equipe também examinou microRNAs da amigdala e do córtex pré-frontal de ratos em cujo intestino as bactérias tinham sido dizimadas por antibióticos. Esses ratos produziram muitos ou poucos microRNAs anormais nos camundongos sem bactérias. Os pesquisadores suspeitam que bactérias intestinais afetam os níveis de ansiedade dos hospedeiros, mexendo com microRNAs em partes específicas do cérebro.
“Eu fiquei um pouco surpreso pelos achados – de maneira positiva – porque pensei que, até o momento, não muitas pessoas pensaram sobre os microRNAs neste contexto”, disse Perter Holzer, um neurogastroenterologista da Medical University of Graz, na Áustria, que não estava envolvido neste estudo. “Ela está evoluindo para uma nova área da pesquisa intestino-cérebro, que jamais foi realizada”.
Os investigadores ainda não têm certeza sobre como estas bactérias lidam com a produção de microRNA no cérebro. Talvez, os micróbios enviem sinais pelo nervo vago, um tipo de via de informação, que vai do intestino ao cérebro. Ou, talvez bactérias produzam subprodutos moleculares, que levam o sistema imunológico a fabricar substâncias químicas que fazem o cérebro produzir mais ou menos determinados microRNAs. Descrever o esquema de manipulação mental dos micróbios, desde o início até o fim, “ainda que seja um trabalho em progresso”, disse Clarke.
A seguir, a equipe deseja ver se antibióticos podem cultivar certos tipos de bactérias intestinais e, portanto, ajustar os níveis de microRNAs em partes específicas do cérebro. Se cientistas puderem ajustar a quantidade de microRNAs, de maneira a aliviar a ansiedade, isto poderia ajudar a levar ao desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de problemas psiquiátricos e neurológicos.
Todavia, os medicamentos baseados em microRNAs podem não ser realistas no curto prazo, disse a gastroenterologista Kirsten Tillisch da UCLA. “As pessoas tendem a gostar de extrapolar estes tipos de resultados para seres humanos, e começar a se mover rapidamente em direção às aplicações clínicas. Isto é muito tentador” disse Tillisch, que não estava envolvida neste estudo. “Mas, nós sabemos que, historicamente, a translação do laboratório animal para os seres humanos é acertos e erros”.
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Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.
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