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A entrevista com o Dr. Jon Kabat-Zinn, o pai da Mindfulness

A entrevista com o Dr. Jon Kabat-Zinn, o pai da Mindfulness

No artigo anterior, falamos um pouco sobre a Mindfulness e sobre a biografia do Dr. Jon Kabat-Zinn, o idealizador desta prática. No post de hoje, reproduzimos uma entrevista de Drake Baer com ele publicada no site Thrive Global em em 12 de abril de 2017. Confira:

Thrive Global: Você jamais esperou que a mindfulness se tornasse uma corrente de pensamento tão importante, como uma coisa de todos os dias?

Dr. Jon Kabat-Zinn: Em 1979, eu realmente tive uma visão, que se tornou realidade; a mindfulness teria um tremendo impacto se a ciência dissesse que, clinicamente, ela teve sucesso no centro médico no qual eu estava começando o MBSR. Então, em decorrência do impacto sobre a corrente principal da medicina, da neurociência e dos cuidados com a saúde, ela seria movida para a sociedade.

A ideia era transformar e curar o mundo, e eu sei que isto parece ser arrogante, mas, de fato, este era o sentido da coisa. Mas, a mindfulness é algo que o cerne dos budistas pratica – logo, eu não inventei a mindfulness em 1979.

TG: Isto leva ao que tem sido chamado de “McMindfulness”, a cultura da moda do consumidor, que cresceu em volta do assim chamado “Momento Mindfulness”.

JKZ: Um dos subprodutos da rápida divulgação da sabedoria Dharma no mundo é que as pessoas tentarão se aproveitar de qualquer coisa que seja quente, e ver se conseguem ganhar algum dinheiro com isso, usa-la em publicidade, vender mais joias ou hambúrgueres. Isto não é necessariamente ruim, é um sinal que a mindfulness está realmente sendo incluída na sociedade.

Em termos do trabalho clínico – MBSR e a terapia cognitiva baseada em mindfulness – o sentido geral é que o nível de profundidade e de fidelidade profundamente incorporados nesta prática é enorme. Eu não estou preocupado, de maneira alguma, com a robusta saúde da mindfulness no mundo.

TG: É possível ter um relacionamento mais consciente com tecnologia?

JKZ: Você pode ser mais consciente da sua adição (vício), mas, a não ser que você se imponha comportamentos, isto é como heroína. Não é dizer que você não possa viver sem tecnologia – eu tenho um iPhone. Mas, você não pode viver com ele, a não ser que você encontre alguma maneira de não se perder na realidade digital, ao ponto de esquecer que o seu corpo é analógico.

Trata-se de não estar presente para uma experiência por que você estava textando, ou tuitando sobre isto. Isto pode acontecer quando você tiver um bebê. Você não está presente para ter um bebê por que você está compartilhando a experiência tão rapidamente. Você quer ter feedback tão rápido sobre o que disse, que você perde a sua própria experiência analógica. Isso seria uma tragédia.

Meu filho e eu damos aulas em retiros para líderes do vale do silício, e isto é feito principalmente com a esperança de que as pessoas que nos trouxeram esta tecnologia possam reconhecer quanto maravilhosa e, simultaneamente danosa e causadora de distração ela é, e encontrar maneiras de usa-la e transforma-la, para que nos possamos criar um buraco cada vez mais profundo para nós mesmos.

O maior agente de distração não é o seu iPhone – é a sua própria mente. Você pode fazer a sua mente parar de secretar pensamentos, mas o que você puder fazer não é captado pelos pensamentos. Isto é uma arte e é para isso que serve o treinamento em mindfulness.

TG: O que você faz é mindfulness secular?

JKZ: Assiduamente, eu evito a palavra secular. Assim que você disser mindfulness secular, você estará abstraindo o sagrado dela.

TG: O sagrado?

JKZ: Realmente, aqui não se trata de respirar, ou do objeto da atenção, mas da própria atenção. Nós somos tão seduzidos pelo pensamento e pela emoção que não percebemos que a consciência é uma função pelo menos tão poderosa. Ela pode conter qualquer emoção, independentemente de quão destrutiva, ou qualquer pensamento, não importando quão gigantesco ele for.

É aqui que está o poder de transformação, no qual que você acrescenta uma medida da profunda introspecção e percepção à experiência original. E daí você percebe que não existe uma experiência ordinária. Tudo é extraordinário.

TG: Ver o extraordinário todos os dias é parte do caminho?

JKZ: A mindfulness representa uma nova maneira de ser no relacionamento com você mesmo, um relacionamento que é catalítico de uma nova maneira de aprendizado e de cura continuados. A transformação vem com a compreensão de que você não é os seus pensamentos sobre você mesmo. Você é muito maior, com mais nuances e multidimensional do que quem você pensa que é, do que a sua história.

De alguma forma, é ser amigo de você mesmo. Você não precisa meditar numa caverna durante 50 anos; você precisa apenas dar-se conta disto. Estas práticas de meditação são realmente designadas a reconhecer e aprender a habitar o domínio do ser, em oposição a fragmenta-lo numa divisão entre sagrado e secular, entre corpo e mente, ou entre você e os outros.

TG: Mas, alguma coisa fica perdida no processo de integração?

JKZ: O desafio é quando você pega algo que tem milhares de anos de idade, que está profundamente enraizado numa sabedoria muito profunda, e como você traz isso para a corrente principal neste processo?

É inevitável que algumas pessoas digam que você está tirando a mindfulness para fora do contexto. O que pode ser perdido são coisas fantásticas de antigas religiões e tradições que são muito diferentes, se você estiver no Japão, na Tailândia, no Vietnam, ou no Tibete. Elas são diferentes, mas tributárias do mesmo rio. Se você for um budista, uma enorme quantidade da beleza desta cultura será perdida. Mas, o budismo nunca é sobre o budismo (como uma religião). É sobre sofrimento e reconhecer as causas deste sofrimento, e o potencial para liberação do sofrimento.

Eu posso argumentar, eu faço isso o tempo todo, que se houvesse algo perdido ao tomar algum elemento das práticas de meditação do cerne da vida original do Buda e tentar trazer isto para o caminho principal da vida de alguém ou de todos, o benefício potencial seria muito superior aos custos. O MBSR dura apenas oito semanas, e é designado a ser uma plataforma de lançamento.

O Buda não era um budista. Uma religião se formou em sua comunidade. As suas realizações foram universais e sobre sofrimento, a natureza do sofrimento e a natureza da mente humana.

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Mindfulness é o cultivo de uma certa qualidade da mente que emerge ao se prestar atenção às experiências do momento presente, de forma intencional, com uma atitude de curiosidade, e abertura e aceitação compassiva em relação a cada experiência.

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Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.

 

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