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Efeitos do estresse durante a gravidez sobre a morfologia cerebral do feto e da criança

Efeitos do estresse durante a gravidez sobre a morfologia cerebral do feto e da criança

Este é um estudo de Ventura T. e col., que foi publicado em Progr Diag Trat Prenat 2009;21(2):77-84, cujo texto integral pode ser acessado pelo aqui

Resumo

Os autores escrevem que os hormônios têm sido intensamente estudados em modelos animais e humanos. Níveis altos e contínuos durante a gestação de cortisol e de hormônio liberador de corticotrofinas (HLC) estão associados a modificações das respostas do eixo fetal placenta-hipotálamo-hipófise-adrenal e da assimetria do cérebro normal.

Parece que alguns comportamentos, como o déficit de atenção, a hiperatividade, a agressividade, a disfunção sexual, ou até a esquizofrenia podem ter a sua origem durante a vida intrauterina. Há alguma evidência de haver uma conexão entre o estresse materno e a ansiedade e o comportamento e a neurofisiologia do recém-nascido.

Outros problemas, como restrição ao crescimento fetal e o nascimento prematuro também podem estar associados ao estresse pré-natal, e algumas patologias como hipertensão arterial e diabetes têm sido relacionadas a um processo de programação, que ocorre durante este período da vida.

Introdução

Escrevem ainda os autores que, em todas as sociedades conhecidas, antigas e atuais, é manifesta a ideia de que o estado emocional da mãe pode ter repercussões sobre o filho que vai nascer, como se pode verificar em citações do Antigo Testamento, de Hipócrates e de Leonardo da Vinci (A mesma alma governa dois corpos e os desejos, medos e mágoas são comuns…).

No entanto, foi Sontag, em 1941, o primeiro cientista a escrever sobre o assunto. O termo “stress” (estresse) foi publicado pela primeira vez em 1936 por Hans Selye na revista Nature, a propósito de um estudo em ratos, e, nas últimas décadas, surgiu extensa investigação sobre os seus efeitos sobre o feto.

O estresse pode ser definido como a resposta global do organismo a qualquer exigência ou pressão externa, tendo o indivíduo a percepção que lhe é exigido mais do que as suas capacidades adaptativas para a situação em causa, podendo sentir o seu bem-estar ameaçado.

Nos seres humanos, a forma mais objetiva de estudar este tema, é o acompanhamento durante e após a gravidez dos efeitos de modelos “naturais” indutores de estresse, como catástrofes ou acidentes, sendo exemplos situações de fome intensa, inundações, tempestades de gelo, casos como o de Chernobyl, ou o ocorrido em New York em 11 de Setembro de 2001, com a população submetida a condições extremas de vida por períodos mais ou menos longos.

Outras formas possíveis de investigação em humanos são a aplicação de diversos tipos de testes/questionários, a dosagem de marcadores bioquímicos e a avaliação de fluxos sanguíneos. As imagens, notadamente a ecografia e a ressonância magnética funcional, têm contribuído para a avaliação do cérebro de recém-nascidos e de crianças expostas a estresse intrauterino.

Também muitos estudos de seguimento de coortes, mostraram uma relação entre a ansiedade pré-natal e o surgimento de problemas após o nascimento.

Barker e col. mostraram que há doenças da vida adulta programadas através de uma alteração do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHSR) durante a vida fetal, destacando nomeadamente a hipertensão arterial, o diabetes tipo II e a doença coronária.

Escrevem também os autores que as consequências fetais do estresse materno dependem provavelmente do estágio de desenvolvimento neuronal do feto, e que esta relação varia de espécie para espécie. Além disso, fatores de ordem genética podem afetar a vulnerabilidade do indivíduo, podendo explicar até 60% da variação nas respostas ao estresse de cada indivíduo.

Comentários finais

Finalmente, os autores dizem que, apesar do estresse na gravidez ser um tema amplamente estudado, há ainda muito para compreender sobre os mecanismos envolvidos e os seus efeitos sobre o ser humano.

Além das ações sobre a morfologia do SNC, de que trata este artigo, há evidência acumulada sobre os efeitos da atividade do eixo HHSR, sobre os fluxos arteriais do feto, sobre a restrição do crescimento fetal e sobre o parto prematuro. Cada vez mais evidentes são as repercussões sobre o comportamento do indivíduo, sobre as capacidades cognitivas, sobre o perfil emocional e sobre a psicopatologia. A hipertensão arterial, o diabetes tipo II e as doenças cardiovasculares, podem também ser programadas neste período.

Em geral, o estresse pré-natal tem sido avaliado pressupondo consequências negativas, mas alguns autores sugerem que poderá haver também efeitos benéficos, a serem investigados.

Por outro lado, as ações, requerem o desenvolvimento de formas de intervenção terapêutica, para tentar reverter o impacto sobre o feto de um ambiente intrauterino adverso.


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Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.

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