O medo, a ansiedade e o estresse e a sua importância para a sobrevivência e a evolução das espécies
Este artigo é um extrato de uma Newsletter publicada pela Neuropsicotronics (NPT), escrita pelo Dr. Marco F. Coghi, Diretor da NPT. O texto completo desta Newsletter pode ser acessado no site www.cardioemotion.com.br
Você, ou algum paciente seu tem medo de altura, ou de multidões, ou de aranhas, ou de baratas, ou fica ansioso quando tem que falar em público? Fica ansioso diante de certas lembranças? Sem falar na atual conjuntura política e econômica do nosso país.
Esta é uma reação bastante comum nos seres humanos e é importante para a sobrevivência e a evolução das espécies. Todavia quando estas reações são excessivas, elas podem dar origem a diferentes patologias físicas e a transtornos mentais.
Infelizmente, milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com algum tipo de transtorno psicológico, e isso vem aumentando progressivamente nos países em desenvolvimento (e também em vários países desenvolvidos – a eleição de Trump nos Estados Unidos, a guerra na Síria, o futuro da União Europeia). A ansiedade, o estresse, as fobias e a depressão estão entre os primeiros de uma longa lista de problemas psicológicos.
Quando sentimos a presença de algo ameaçador, real ou imaginário, há uma imediata mudança metabólica reflexiva e de funcionamento de certos órgãos, induzindo mudanças comportamentais: fugimos, lutamos ou podemos nos congelar no horror.
Este é um dos mecanismos que possibilita a adaptação ao ambiente, e a evolução das espécies. Esse estímulo pode ocorrer no momento presente, ou pode ser uma antecipação ou expectativa de um futuro risco percebido como ameaçador para a vida ou para o corpo. A resposta ao medo tem sido preservada ao longo da evolução, por meio da geração de comportamentos adaptativos.
Em 2011, J. F. Feistein e col. da Universidade de Iowa publicaram um artigo científico na revista Current Biology intitulado “A amígdala humana e a Indução e Experiência do Medo”, relativo a uma paciente, que não exibia reações de medo. Esta paciente apresentava uma incomum patologia (Doença de Urbach-Wiethe, uma doença genética rara), que causara danos em ambas as amígdalas (do hipocampo) – estruturas do Sistema Nervoso Central − e ela não reagia diante de situações adversas, como o contato direto com cobras, aranhas e à visita a um sanatório tido como mal assobrado (Casa Assobrada – Sanatório Waverly Hills).
As demais emoções básicas e seus respectivos sentimentos estavam preservados, somente o medo havia desaparecido com a deterioração de suas amígdalas bilaterais. Segundo os autores, “as amígdalas cerebrais humanas desempenham um papel fundamental no desencadeamento do estado de medo, e a sua ausência impede a experiência do medo”.
Quando o nosso dia a dia é perturbado de modo constante e intenso pela ansiedade, pelo medo anormal, ou pelo estresse crônico, nosso corpo e nossa mente sofrem muito. Adoecemos. E muitas patologias de fundo emocional parecem ser moduladas pela amígdala acima mencionada.
As amígdalas (cientificamente denominadas amígdalas cerebelosas*) formam uma massa esferoide de substância cinzenta, com cerca de dois centímetros de diâmetro, no polo temporal do hemisfério cerebral de grande parte dos vertebrados, incluindo o homem. Esta região do cérebro faz parte do sistema límbico. que é um importante centro regulador do comportamento sexual, do comportamento agressivo, das respostas emocionais e da reatividade a estímulos biologicamente relevantes (Fonte: Wikipedia).
As amígdalas funcionam como se fossem “termostatos emocionais”: quando elas estão operando em seu nível normal, na “temperatura ambiente”, a ação resultante é benéfica para nossa proteção e sobrevivência. As amígdalas são importantes centros reguladores do comportamento sexual, de sentimentos (como medo, amor e paixão) e da agressividade.
As amígdalas cerebelosas também estão ligadas ao Sistema Nervoso Autônomo, que controla o funcionamento dos órgãos abdominais e torácicos, entre eles, o coração. Por exemplo, nas fortes emoções há um aumento da frequência cardíaca (taquicardia).
Em 2007, Yang e col. publicaram no Neuroscience Letters uma pesquisa avaliando a função das amígdalas usando ressonância magnética. Eles demostraram que esse núcleo apresenta-se demasiadamente ativo em diversos transtornos psicológicos, como no estresse, no transtorno de ansiedade e no transtorno de estresse pós-traumático, entre outros. Os transtornos de humor, estresse e ansiedade mostram acoplamentos modificados entre o processamento de eventos emocionalmente alterados e a atividade do sistema nervoso autônomo.
Avanços recentes de análise de imagens do cérebro, obtidas por ressonância magnética, demostram a importância da amígdala em estados mentais, e que ela está intimamente relacionada a vários distúrbios psicológicos e comportamentais.
Na maioria dos casos, crianças com transtorno de ansiedade possuem uma amígdala esquerda com menor volume e que aumenta com o uso de medicação antidepressiva (ISRS – Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina).
Em 2001, Y. I. Sheline e col. do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Washington, no estudo “Aumento da resposta da amígdala para rostos mascarados emocionais em indivíduos deprimidos resolve com o tratamento antidepressivo: um estudo de fRM”, publicado em Biological Psychiatry, demostram que “pacientes deprimidos apresentam amígdala esquerda hiperestimulada, mesmo ao processar estímulos inconscientes. O aumento da ativação da amígdala é normalizado com tratamento antidepressivo”.
- Donegam e col., do Departamento de Psiquiatria da Yale University School of Medicine, New Haven, Connecticut, no artigo “A hiper-reatividade da amígdala em transtorno de personalidade borderline: implicação para desregulação emocional”, publicado em Biological Psichiatry (2003), estabelecem a hipótese de que a hiper-reatividade da amígdala em personalidades limítrofes, contribui para a hipervigilância, para a desregulação emocional e os transtorno nas relações interpessoais. Os pesquisadores demonstraram que era observada uma ativação significativamente maior da amígdala esquerda para as expressões faciais de emoção, em comparação com indivíduos controles normais.
- Maren, do Departamento de Psicologia, e Gregory J. Quirk, do Instituto de Neurociência, ambos da Texas A&M University, analisam a sinalização neural da memória de medo na Nature Reviews Neuroscience (2004). “O aprender e o lembrar de acontecimentos terríveis depende da integridade da amígdala. Os autores revelam que os neurônios na amígdala lateral podem codificar memórias adversas durante a aquisição e extinção do medo condicionado de Pavlov. A extinção da memória do medo reduz a plasticidade associativa na amígdala lateral, envolve o hipocampo e o córtex pré-frontal, o que abre novos caminhos para a investigação sobre os sistemas neurais que suportam o comportamento causado pelo medo”.
Portanto, muitas das psicopatologias estão associadas ao funcionamento indevido das amígdalas, ou sós, ou presentes através da associação a outros centros neurais. Transtornos de ansiedade, fobias, aprendizagem de emoções adversas parecem ter este núcleo neural como um dos centros mais importantes.
O biofeedback cardíaco em coerência cardíaca (equilíbrio do sistema nervoso autônomo) parece ter a capacidade de autorregular a função da amígdala, pois, reduz a ansiedade, as fobias, o Transtorno do Pânico, do Estresse Pós-Traumático, entre outros estados, nos quais a amígdala está envolvida.
Segundo o artigo de revisão de R. Gervirtz, da Alliant Universtity, Califórnia,intitulado “Uma promessa do biofeedback de variabilidade da frequência cardíaca: aplicações baseadas em evidências”, publicado na revista Biofeedback (2013), que reviu mais de 60 trabalhos científicos, o autor mostra que, além das respostas fisiológicas positivas apresentadas por pacientes que usaram o biofeedback cardíaco, os efeitos psicoemocionais positivos do tratamento complementar-integrativo para depressão, transtorno de ansiedade, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, fobias, ansiedade, estresse, sono, produzem melhora, como também produzem melhora do desempenho desportivo e musical.
Assim, manter a saúde da amígdala, sua atividade funcional normal, sem muita ou pouca excitação, pode ser uma importante alternativa para evitar, aliviar ou mesmo corrigir problemas psicológicos. E o treinamento da regulação autônoma por biofeedback cardíaco, como ferramenta complementar-integrativa, pode ser um caminho a ser mais explorado.
Aguardem mais notícias sobre este tema muito interessante.
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Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.
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