Biofeedback e auto regulação: tratamento para promover bem estar emocional e espiritual em alcoólatras
Esta foi uma tese para obtenção do título de PhD apresentada por Kalman Khodik à Faculty of the Institute for Graduate Clinical Psychology da Widener University, em maio de 2013.
O texto integral desta dissertação pode ser acessado aqui.
Resumo
Escreve o autor que todos os tipos de vícios são prejudiciais aos indivíduos e à sociedade. Em virtude da ubiquidade e do fácil acesso às bebidas alcoólicas, o mau uso delas continua a ser um grande problema global. Embora beber álcool seja pouco prejudicial a muitas pessoas, há alguns indivíduos que parecem ter uma propensão relativamente grande para desenvolver este vício (o alcoolismo).
O maior problema do vício é que, uma vez desenvolvido, é difícil de tratar. Isto é especialmente verdadeiro para os transtornos do uso de substâncias químicas, pois, estas substâncias, uma vez consumidas, imitam os efeitos sobre os mesmos circuitos cerebrais que oferecem recompensas e que dão ao indivíduo controle sobre o consumo, portanto, fornecendo um poderoso incentivo a continuar tendo este comportamento.
Por outro lado, quando estas substâncias são retiradas do sistema, a reação psicofisiológica, resultante da tentativa do organismo de restabelecer a homeostase, ocorre ao contrário. Para evitar esta experiência de desconforto, a maioria das pessoas volta a usar as substâncias.
Os indivíduos tendem a depender do álcool, e/ou de outras substâncias químicas, como uma maneira de auto regular as suas emoções, cujo efeito eles desejam reforçar ou suprimir.
Além disso, muitos indivíduos que têm uma história de mau uso crônico destas substâncias tendem a apresentar-se com distúrbios reincidentes, incluindo déficits cognitivos e desregulação emocional. Pesquisas descobriram existir algumas correlações relacionadas ao córtex pré-frontal, funções executivas, auto regulação e auto controle, e os problemas de desregulação associados ao abuso de substâncias. Estes déficits estão, hipoteticamente, predando o consumo de álcool dele resultante no longo prazo, ou, mais frequentemente, incluindo todas essas coisas. Esta comorbidade parece criar um grau composto de complexidades, ao tratar o alcoolismo.
Muitos fatores estão envolvidos relacionados aos estados interiores e aos traços dos indivíduos que estão entrando no tratamento, e o meio exterior. Por exemplo, a disposição, capacidade e prontidão são componentes críticos para o sucesso do tratamento e da recuperação. Da mesma forma, o tipo, a intensidade e a duração do tratamento representam as três partes fundamentais, das quais o tratamento depende. Todavia, no mundo contemporâneo, a pressão para baixar o custo do tratamento frequentemente se traduz no comprometimento da estabilidade de uma ou de todas essas partes.
Portanto, o foco é mudar e preparar os pacientes para um processo de recuperação que dura toda a vida, e que assume a forma de aderir ao programa de 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. As taxas de abandono são legendárias. Logo, o desafio discutido nesta dissertação tem sido isolar esses pontos críticos compartilhados, que podem ser reforçados para melhor ajudar a preparar os clientes para uma recuperação auto dirigida, aumentando a adesão ao tratamento e diminuindo as taxas de abandono.
Fortalecer as capacidades de auto regulação e de auto controle do paciente parece ser uma importante área do tratamento. O autor revisou algumas das opções terapêuticas empíricas mais comuns, bem como algumas das suas limitações. Ele também apresentou evidências dos efeitos salutares de práticas espirituais e religiosas sobre o bem estar geral e o tratamento do alcoolismo. Parece que há maneiras de treinar a auto regulação das emoções de uma maneira holística e sustentável. O tratamento sendo recomendado foi em duas frentes, com um componente crítico que promete intensificar estas duas intervenções.
O primeiro lado do tratamento foi apresentado como um programa de aptidão emocional, que reintroduziria os pacientes às suas emoções através de uma série de sessões didáticas e de exercícios usando a tecnologia mais recente de biofeedback cardíaco.
Esta tecnologia da variabilidade da frequência cardíaca – VFC (HRV em inglês) é um ótimo componente para oferecer aos indivíduos uma informação direta e imediata sobre a sua capacidade e evocar emoções positivas. Portanto, enquanto que este componente de cima para baixo do bem estar emocional fornece informação através da educação psicossocial, o outro componente (de baixo para cima) permite que os pacientes coloquem essas ideias em prática.
A segunda parte deste protocolo envolve desenvolver o bem estar espiritual dos pacientes. Semelhante ao treinamento emocional, esta série de sessões introduz a psicoedudação sobre o assunto espiritualidade, ajudando-os a explorar as áreas de integração, ou de desintegração, das suas próprias vidas, e abordar conflitos espirituais.
Uma vez que os conflitos interiores de natureza espiritual são conhecidos por prever distúrbios e patologia psicológicos mais amplos, o autor recomenda que o terapeuta alveje estes conflitos e use as suas habilidades para ajudar os pacientes a encontrar uma solução para eles. Uma vez que alguns pacientes se identificam como seres não espirituais ou não religiosos, o terapeuta é encorajado a apresentar esta ideia como “uma busca pelo sagrado” (Hill e Pargament, 2008, p.4), e, consequentemente ele pode incluir todos os tipos de empreendimentos humanos criativos, que “eleve os seus espíritos”.
O treinamento espiritual seria também acompanhado do treinamento através do biofeedback cardíaco, e os exercícios podem tomar a forma de prece, meditação e contemplação (Rosmarin et al., 2011). O biofeedback cardíaco é um ótimo recurso para explorar os estados transcendentais e espirituais, por permitir a prática de estados de paz, alegria, aceitação, perdão, conectividade e compaixão.
O uso integrado de conhecimento emocional e espiritual, junto com o biofeedback cardíaco tem sido sugerido para componentes para reduzir o desconforto individual e para equipar os pacientes com um senso de auto eficácia para melhor beneficia-los no tratamento do vício numa clínica, bem como no seu futuro comparecimento às reuniões dos Alcoólicos Anônimos.
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Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.
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