Os benefícios do biofeedback cardíaco – parte 9
A autorregulação em cuidadores profissionais
Nos últimos anos, um número crescente de estudos sobre estresse focou em cuidadores profissionais. Os profissionais afetados falam de esgotamento, para definir um estado de exaustão física e emocional, causado pelo estresse das demandas do seu trabalho diário. O estudo dessas duas condições tem sido desenvolvido em áreas de alta demanda por serviços como o cuidado de pessoas com demência. Sendo esta uma doença neurodegenerativa progressiva e de longa duração, há alto risco de exposição a situações de estresse crônico, tanto para os cuidadores profissionais, como também para os que são membros da família.
Muitos estudos mostram as consequências do estresse profissional físico e emocional, que pode causar problemas de comunicação na equipe e nas famílias, e que afetam o bem estar geral das pessoas.
Um estudo realizado por um longo período de tempo em três casas de repouso para idosos, localizados em diferentes cidades da Espanha, examinou os resultados do controle do estresse, baseado em técnicas de autorregulação e em treinamento de coerência cardíaca, num grupo de cuidadores profissionais e de familiares de pacientes idosos com demência. O modelo conceitual de cuidados que guiou a implantação deste estudo foi a teoria de Jean Watson de cuidados humanos. Esta teoria enfatiza a importância de cuidar de si mesmo, de colegas, ou da família e de outros, como um meio para obter um ambiente com condições mais favoráveis.
Os participantes incluíram 42 cuidadores profissionais e 32 cuidadores que eram membros das famílias. Foram coletadas diversas variáveis sociodemográficas, que incluíram idade, sexo, ocupação, nível de educação, história médica, uso de medicamentos, anos de atividade como cuidadores e informação sobre as pessoas cuidadas por eles, como o grau de demência.
O grau de estresse e de esgotamento dos cuidadores profissionais foi avaliado através do Maslach Burnout Inventory – MBI (Inventário de Esgotamento de Maslach), que tem três subescalas primárias: exaustão emocional, despersonalização e desempenho profissional. Para os cuidadores membros das famílias, a escala usada para a avaliação da sobrecarga foi a versão espanhola da Zarit Burden Inventory (Inventário de Carga de Zarif), que reflete o nível de sobrecarga da pessoa.
A coerência cardíaca foi medida pelo biofeedback da variabilidade da frequência cardíaca – VFC (HRV, em inglês), e o nível de coerência dos participantes foi avaliado na situação basal e três meses após o treinamento, em estado de repouso e durante um período no qual eles foram solicitados a relaxar. Além disso, no final dos workshops, os participantes preencheram questionários sobre o estresse e a sobrecarga, e a coerência cardíaca foi avaliada.
O treinamento das habilidades de autorregulação foi realizado em workshops com grupos de 10 pessoas, sem diferenciação entre os cuidadores profissionais e os cuidadores membros da família. Os workshops ocorreram em sessões semanais de uma hora durante três meses.
Os resultados de uma análise ANOVA dos cuidadores profissionais, realizada três meses após o treinamento, mostraram uma redução significativa das escalas MBI de exaustão emocional e de melhora do desempenho. A escala de despersonalização não mudou significativamente. No grupo dos cuidadores membros da família, os resultados da escala Zarif não foram estatisticamente confirmados, após a correção de Bonferroni (p = 0,04). Um achado notável entre os cuidadores membros da família foi um alto porcentual hipertensão arterial (43,7%), insônia (28,7%) e ansiedade (31,8%), cada qual responsável por pelo menos um medicamento diário. Nos profissionais, as questões mais prevalentes foram problemas para dormir (27,8%) e problemas musculares ou mecânicos (47,6%). Após a avaliação, houve aumento significativo da coerência cardíaca em 86,4% dos participantes, em relação aos valores basais.
Os autores concluíram que o principal objetivo deste trabalho era reduzir os níveis de estresse e de sobrecarga, através do controle psicológico e do aumento da coerência cardíaca num grupo de cuidadores profissionais e de familiares de pessoas com demência. Os resultados sugerem que a intervenção atingiu o objetivo principal.
Fonte: https://www.heartmath.org/research/science-of-the-heart/health-outcome-studies/
Nos próximos posts veremos um resumo de outros benefícios obtidos com o uso do biofeedback cardíaco em pessoas em diferentes situações.
—
Você sabe que no Brasil já existe uma ferramenta de biofeedback cardíaco (HRV) disponível para auxiliar no tratamento da ansiedade? Para saber mais sobre essa ferramenta chamada cardioEmotion, faça download do e-Book “Como tornar visível o invisível: visualizando as reações psicofisiológicas por meio de biofeedback”.
—
Sobre o autor deste post: Colunista do blog do cardioEmotion, Dr. Fernando é formado em medicina pela USP, pós graduado em administração de empresas pela FGV, possui mais de 40 anos de experiência como executivo de sucesso em empresas multinacionais do ramo farmacêutico, além de escritor e tradutor sênior.
Comentários